O maravilhoso mundo das micorrizas que você desconhece mas não vive sem!

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“Se você já aproveitou a sombra de uma árvore de carvalho, decorou um pinheiro para ser árvore de Natal, admirou a beleza de uma orquídea, comeu  feijão ou cogumelos, você se beneficiou do mundo secreto das micorrizas, um mundo responsável pela sobrevivência da maioria das plantas terrestres.”[1]

O nome micorriza pode parecer engraçado e não fazer muito sentido mas, em grego, ‘mico’ significa fungo e ‘riza’ significa raiz. Agora deu para entender melhor, não é?! Micorrizas são associações entre fungos e raízes de plantas como feijão, soja e milho que buscam colaboração mútua para conseguir nutrientes importantes. Evidências mostram que essa associação começou há 450 milhões de anos, na qual uma simbiose (do grego, ‘vivendo juntos’) ocorreu de forma mutualística, ou seja, beneficiando ambas as espécies. [2]mushroom-1041645_1920Figura 1. Cogumelos crescendo próximos ao tronco uma árvore. 

Um cogumelo no chão em meio às árvores é apenas a ponta do iceberg (Figura 1). O que vemos acima do solo, muitas vezes colorido e com diferentes formas, é o corpo de frutificação, onde estão localizados os esporos responsáveis pela reprodução do fungo. Abaixo do solo encontra-se o micélio, uma rede microscópica de filamentos chamados de hifas que lembram as raízes das plantas e que podem se extender por quilômetros! De acordo com o Prof. Dr. Marcel van der Heijden, da Universidade de Utrecht (Holanda), um simples cogumelo pode se conectar com até 100 plantas diferentes através de suas longas hifas. Nesta conexão, as plantas oferecem açúcar produzido através da fotossíntese para os fungos e em troca, recebem nitrogênio e/ou fósforo que os fungos retiram do solo. [2, 3]

Já a Profa. Dra. Toby Kiers da Universidade Livre de Amsterdã (VU) na Holanda, investiga a teoria de que essas trocas de nutrientes e açúcar entre fungo e planta não sejam tão harmônicas. O grupo da professora investiga os limites entre cooperação e conflito nesses organismos (Figura 2). Ela acredita que fungos e plantas compartilham uma quantidade mínima de nutrientes buscando receber a maior quantidade de nutrientes do outro colaborador. Desta forma, ambos tentariam manter o máximo possível das suas reservas para as próximas gerações, assim como nós, seres humanos, fazemos. A cientista ainda explica que muitas hifas de fungos competem por um lugar na raiz da planta hospedeira afim de negociar nutrientes em troca de açúcar. Se o ‘comércio’ for interessante para ambas as partes, a colaboração é estabelecida. Entretanto, se planta ou fungo não forem bons fornecedores, uma das partes pode rejeitar o comércio ou procurar um novo fornecedor. Toby Kiers também enfatiza as evidências de que a planta premia os fungos mais colaborativos, trocando mais açúcar por fósforo. Ainda nessa linha, de forma mais egoísta, há a hipótese de que o fungo, ao penetrar na raiz da planta, tenta controlar o fornecimento de fósforo, fazendo a planta de refém como se fosse um traficante de nutrientes. [2, 5]

De acordo com o Prof. Dr. Stephan Declerck da Universidade Católica de Louvain (UCL) na Bélgica, os fungos e as plantas têm uma colaboração perfeita, onde a planta tem um maior crescimento com a ajuda dos nutrientes recebidos dos fungos e os fungos se desenvolvem melhor no solo por conta do açúcar recebido das plantas. Stephan também cita que duas plantas podem se interconectar através dos fungos no solo. Se uma planta A é afetada por um patógeno ou um inseto, uma planta B pode receber o sinal deste problema através do fungo que as interconecta. Nesta situação, a planta Bque foi avisada pode se proteger antes que o perigo chegue até ela. [2, 4]

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Figura 2. Ponto de contato entre o esporo de um fungo micorrízico e a raiz de uma cenoura. (Imagem feita com microscopia de campo claro. Imagem invertida e com coloração artificial para melhor visualização dos detalhes.)

As pesquisas dos três cientistas citados acima mostram evidências da importância das micorrizas no crescimento das plantas e no aumento da produção agrícola. Um estudo realizado na UCL mostrou que a adição de fungos micorrízicos no solo estimula a planta a crescer duas vezes mais do que em um solo sem micorrizas, além de reduzir a necessidade de adição de fertilizantes ao solo. Com isso, a agricultura se tornaria mais sustentável e solo e água subterrânea sofreriam uma menor contaminação por conta da menor utilização de fertilizantes ricos em fósforo e nitrogênio. [2,4]

Que incrível, não é?! Sabíamos o quanto as plantas eram importantes para a nossa vida na terra e, agora, estamos descobrindo que sem os fungos micorrízicos elas não teriam ido tão longe (e nem nós!).

Texto por: Dra. Aline Ramos da Silva

 

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