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Sol e Cida


Publicada em: 06/04/2005

Você anda acompanhando o Big Brother Brasil 4? Caso sua resposta seja positiva, você já reparou que o modo de se expressar da Sol tem sido motivo de crítica e de deboche, tanto de quem apenas assiste ao programa, como dos que convivem com as garotas dentro da casa? Pois é, esse assunto anda dando mesmo o que falar! Exatamente por isso nós vamos aproveitá-lo para discutir algumas ideias relacionadas à língua portuguesa.

Vamos começar pelo comentário feito pelo apresentador do programa, Pedro Bial, quando a Sol se queixou de ser repetidamente corrigida pela companheira Juliana. Ela já não se sentia à vontade para falar, estava sempre com medo de errar. Bial comentou então, que na fala não há certo e errado, e que portanto ela poderia falar sem medo. Mas na escrita, continuou o apresentador, a coisa é diferente: ela exige mais cuidado, nem tudo é permitido. Será que Bial estava certo? A Sol estava falando corretamente mesmo?!

 

Em certo sentido sim. Mas comecemos do início!

Pedro Bial estava, provavelmente, referindo-se a algo que se chama “variação linguística”. Ao contrário do que muita gente pensa, não existe apenas uma língua portuguesa no Brasil. Existe sim apenas uma língua portuguesa considerada correta e que se denomina norma culta. Além da norma culta, existem outros modos de falar português, modos que variam conforme a idade do falante, seu sexo, seu grupo social, seu nível de escolaridade, seu espaço geográfico, etc.

Por exemplo, repare que a linguagem empregada por você e seus amigos não é igual à linguagem empregada por um adulto ou por uma criança. Alguém que mora no Rio Grande do Sul não fala como alguém que mora no Rio de Janeiro! Mas se existem diferenças, qual desses falares é o mais certo?

Os estudiosos dizem que todos são bons no que diz respeito à comunicação, ou seja, todas as variantes servem perfeitamente à comunicação. Assim, os modos de falar que não fazem parte da língua culta não são tidos como errados, mas sim como variantes do português. A própria norma culta é uma variante. Já no que diz respeito à língua escrita, aí sim há problemas, simplesmente porque a escrita se espelha na norma culta, então não dá para fugir muito dela. E tem mais, essas variações não ocorrem somente com a língua portuguesa, mas com outras línguas também.

Bem, se todas as variantes são corretas do ponto de vista da comunicação, porque as pessoas criticam tanto o jeito de falar das duas meninas?

 

Porque, do ponto de vista social, as variantes não possuem o mesmo valor: a norma culta é aceita, tida como certa e para as demais variantes sobra muitas vezes – principalmente para variante popular – o preconceito. E é esse preconceito que estamos vendo na 4ª edição do Big Brother Brasil. A variante usada por Sol e Cida tem sido vista como um arsenal de bobagens. Mas pensando desse modo, chegaremos à conclusão de que não são apenas as duas que falam bobagens, mas sim milhares de brasileiros, pois muitos falam como elas...

Todos nós deveríamos saber a norma culta, afinal, em algumas situações o seu uso é importante. Porém, isso não nos dá o direito de marginalizar aqueles que não a utilizam, de achá-los menos inteligentes, de diminuir o seu valor.

Trata-se, na maior parte dos casos, de uma questão de oportunidade e não de inteligência. Muitos brasileiros vêm de famílias que não usam e até desconhecem a norma culta, por isso, têm na escola – a responsável oficial pelo ensino da norma culta – a única possibilidade de acesso a tal variante. Muitas vezes não podem sequer frequentar a escola.

Debochando de seu modo de falar, estaremos diminuindo ainda mais as oportunidades dessas pessoas. Diminuiremos, por exemplo, a possibilidade de se sentirem à vontade para se expressar do único modo como sabem, ou seja, tiraremos a sua liberdade de expressão. Foi assim que Sol se sentiu quando reclamou das críticas recebidas de Juliana.

Então, para resumir, uma coisa é não gostar das meninas, outra é julgá-las pelo modo como falam. No primeiro caso trata-se de uma questão de afinidade, no segundo caso trata-se de preconceito...


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