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Tome cuidado com as palavras!


Publicada em: 18/01/2010

Ouvimos desde que entramos na escola que algumas palavras são sinônimas, ou seja, possuem sentidos idênticos ou parecidos. Mas será mesmo que pode haver alguma palavra que possui sentido idêntico ao de outra?

 

Uma vez foi lançado um reclame sobre um remédio para pessoas com 50 anos, pessoas que já não possuem a mesma energia que os jovens e precisam, por este motivo, de vitaminas que lhes reconstituam o ânimo. A propaganda mostrava um casal na faixa de uns 50 anos no alto de uma colina, vestido com roupas esportivas e acompanhado de duas bicicletas. O anúncio repetia constantemente a expressão Jovens senhores e, por fim, referiu-se ao remédio como sendo um medicamento para os jovens que já tivessem completado seus 50 carnavais.

Quando queremos dizer que alguém possui a idade x, é comum usarmos a palavra anos. Fulano tem x anos. Ou Fulano tem x primaveras, em alguns casos. Então podemos concluir que carnavais, anos ou primaveras são expressões sinônimas, já que as três referem-se à idade? Não! Por quê? Pois as palavras adquirem conotações diferentes umas das outras, conforme são usadas. Pensemos, por exemplo, nas ideias que nos vêm à cabeça quando ouvimos alguém pronunciar que tem 50 anos. Provavelmente imaginamos que tal pessoa já é um pouco idosa, alguém que já viveu muito e, por isso, já deve estar um pouco cansada, apresentando as marcas do tempo em seu corpo e em sua saúde. E dizer que alguém tem 50 primaveras, o que significa? Em primeiro lugar, tal expressão hoje é muito rara, mas era comum antigamente. Geralmente quem a usa pretende mostrar que a pessoa está realmente velha, pois é digna de 50 primaveras, ou seja, é digna de uma expressão tão antiga quanto sua idade. E dizer que alguém tem 50 carnavais, quais as ideias embutidas nessa expressão? Pensemos o que significa carnaval para o povo brasileiro.

 

Trata-se de uma festa em que as pessoas dançam, cantam animadamente por alguns dias, esquecendo-se de seus problemas e priorizando o divertimento, a alegria de viver e não as preocupações do dia-a-dia. É, inclusive, uma das festas que possui maior expressão internacional, ou seja, até quem não é brasileiro gosta de vir aqui brincar carnaval. Então, se compararmos a expressão 50 anos, com 50 carnavais, podemos chegar a seguinte conclusão: quem tem 50 anos já está cansado e nós, que somos jovens, estamos em vantagem a tal pessoa, pois ainda não apresentamos problemas de saúde, ainda não precisamos tomar remédios para que nosso organismo funcione melhor (a menos que estejamos doentes, mas isso é um estado temporário e não permanente, como o da velhice) e ainda temos muito tempo pela frente para viver.

Quanto à expressão 50 carnavais, somos levados a concluir que estamos em desvantagem em relação à pessoa que completou os 50 carnavais, afinal essa pessoa já se divertiu muito mais do que nós, ela já viu e já participou de mais festas. Logo, se no primeiro exemplo temos uma ideia negativa de fazer 50 anos, no segundo temos uma ideia positiva: fazer 50 anos é ter ido a muitas festas. E quem não quer ir a muitas festas?!
Agora analisemos o contexto em que a expressão foi usada: um comercial. A intenção de quem usou tal expressão é vender um produto, então o melhor a fazer é vincular a ele uma ideia positiva e não negativa. Da mesma forma como os publicitários vinculam à imagem de um xampu uma bela moça, com belos cabelos, a propaganda em questão vinculou ao seu produto pessoas idosas, mas que possuem um espírito jovem, alegre. Assim, o remédio passa a ser visto não como um produto para a velhice, mas sim como um produto para manter, aos 50 anos, a mesma juventude dos 20. Se tais palavras provocam efeitos de sentido tão adversos, podemos chamá-las de sinônimas? Realmente não!

 

Poderíamos citar mais um exemplo. Pensemos em dois jornais que pretendem relatar uma ação do movimento dos trabalhadores sem terra. Um deles publicaria a reportagem com a seguinte manchete: MST invade a fazenda x. O outro diria: MST ocupa a fazenda x. Eles querem dizer a mesma coisa? Não! O fato é o mesmo, porém a forma de retratá-lo é muito diferente. Isso porque invadir para nós tem o sentido de tomar posse de algo que não nos pertence, ou seja, invadir tem uma conotação negativa, enquanto ocupar significa apenas que um lugar que estava desocupado, “vazio”, foi preenchido por um dono.

Neste último caso, a ideia de propriedade alheia não aparece. Assim, se tais palavras provocam efeitos diferentes, isso quer dizer que uma não pode ser substituída pela outra sem que haja alteração de sentido. Caso o produtor do texto não se importe com a alteração, tudo bem, mas se o sentido pretendido for um ou outro, então elas não poderão ser trocadas sem que isso cause danos para o texto.
Então, quando formos falar de sinônimos é necessário tomarmos muito cuidado, pois dentro de um determinado contexto, cada palavra é única.


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